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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A importância do lúdico no processo de aprendizagem.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol. fev., Série 13/02, 2012, p.01-06.


O presente artigo faz parte da Monografia de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional pelo INEC/Universidade Cruzeiro do Sul, orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

“O desenvolvimento da criança acontece através do lúdico” (PIAGET).

O presente estudo apresenta a importância do lúdico como proposta pedagógica no processo de aprendizagem. 
A pesquisa é de cunho bibliográfico, resgatando algumas pesquisas já realizadas que comprovam a eficiência do trabalho por meio de jogos e brincadeiras no desenvolvimento físico e psicológico, além de servir como um recurso motivacional ao aprendizado.


Introdução.
Ao pensarmos na realidade da sala de aula, nos deparamos com um número elevado de alunos com grandes dificuldades de aprendizagem e desmotivados para os estudos.
Para mudar tal visão, faz-se necessário uma prática pedagógica dinâmica e provocadora, no sentido de instigar os alunos a aprender de maneira significativa e prazerosa.      
O educador exerce considerável função nesse processo, pois é quem vai direcioná-lo, sendo mediador e propondo atividades que estimulem o aluno em sala de aula.
Os brinquedos e jogos são reconhecidos por educadores como fator importante na educação, uma vez que, o brinquedo é oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e aprimora habilidades.
Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e atenção.
A ludicidade é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança.   
O lúdico tão importante para a saúde física e mental do ser humano é um espaço que merece atenção dos pais e educadores.
Todas as sociedades reconhecem o brincar como parte da infância.
Partindo de concepções teóricas de que a criança tem sua curiosidade despertada por jogos e brincadeiras e por meio deles se relaciona com o meio físico e social, de modo a ampliar seus conhecimentos, desenvolver habilidades motoras, cognitivas e lingüísticas, a escola deve considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento dos alunos.
As crianças fazem das brincadeiras uma ponte para o imaginário, a partir disto, muito pode ser trabalhado.
Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regra, desenhar, entre outras atividades constituem meios prazerosos de aprendizagem.
Por intermédio delas, as crianças expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias, aperfeiçoam características importantes para a vida adulta.


Fundamentação Teórica.
Mauricio (2008) apresenta um estudo focado na importância do lúdico para o processo ensino-aprendizagem, buscando clarificar o papel do brincar e conscientizar professores de seu real significado.
Segundo resultados de sua pesquisa, percebe-se significante melhora no desenvolvimento humano no que tange ao crescimento pessoal, social, cultural, motor, além da comunicação, expressão e construção de pensamento.
O ato de brincar e jogar torna o indivíduo capaz de pensar, imaginar, interpretar e criar, aspectos estes, que propiciam autonomia, iniciativa, concentração e análise crítica para levantar hipóteses acerca dos fatos, bem como nos ensinam a respeitar regras e vivenciar conflitos competitivos.
Vygotsky (s/d) citado pela autora caracteriza a brincadeira pela regra, imaginação e imitação, envolvendo os processos de socialização e descoberta do mundo.
Já o jogo pode ser visto como o resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social, com um conjunto de regras e um objeto.
Ambos despertam o interesse do indivíduo.
Na teoria do autor o desenvolvimento ocorre com a interferência de outros indivíduos e o meio em que se vive.
A criança pode superar sua condição real, pois traz uma bagagem de conhecimentos adquiridos em experiências vividas no contexto em que está inserida e esses conhecimentos são exteriorizados por meio do lúdico.
Na medida em que joga, se conhece melhor e constrói o seu “eu”. 
À luz da teoria de Ronca e Terzi (1995) citados por Tezani (2004), o lúdico proporciona compreender os limites e as possibilidades da assimilação de novos conhecimentos pela criança, visto que, mediante o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem, o indivíduo conhece e interpreta os fenômenos à sua volta, trabalhando com os limites existentes entre o imaginário e o concreto.
Na concepção de Barreto (2007), o brincar favorece transformações internas e é uma forma de expressar seu desejo.
Maurício (2008) menciona que a ludicidade reflete a expressão mais genuína do ser; é o espaço de todo ser para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e objetos.
Por meio das atividades lúdicas, o indivíduo forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções e se socializa.
A ligação das atividades lúdicas com a aprendizagem proporciona o estabelecimento de relações cognitivas, simbólicas e produções culturais.
O lúdico possui dois fatores motivacionais, o prazer e o ambiente espontâneo.
As tarefas lúdicas demandam um interesse intrínseco do indivíduo, pois este canaliza sua energia para cumprir com os objetivos propostos, produzindo um sentimento eufórico e de entusiasmo.
Dallabona e Mendes (2004) ainda apresentam que as atividades lúdicas são peças-chave para desenvolver a solidariedade e empatia, como para introduzir novos conceitos para a posse e para o consumo.
Batllori (2001) citado por Melo (s/d), afirma que o jogo favorece o desenvolvimento da lógica, estimula a aceitação de hierarquias, o trabalho em equipe, como também estimula a comunicação e auxilia no desenvolvimento motor e físico.
A criança se expressa de maneira natural.
A brincadeira é um recurso que facilita a compreensão espontânea de alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.
Consoante à ideia anterior, Tezani (2004) expõe que as atividades lúdicas provocam espontaneidade, uma vez que o indivíduo sente-se à vontade para explorar o ambiente, aventurar-se e enfrentar os desafios com foco em alcançar os resultados propostos.
A partir de então, percebe-se um aluno ativo, participativo e autoconfiante.
Dinello (1997) citado por Melo (s/d) defende que por meio do jogo, a psicomotricidade se desenvolve em processo prático de maturação e oportuniza a criança a desenvolver capacidades importantes como concentração, afetividade, imaginação e sensibilidade.
Maurício (2008) enfatiza que o jogo não deve ser visto apenas como uma ocupação ligeira para chamar a atenção do aluno e dessa forma acalmá-lo, mas sim deve ser considerado como uma fonte importante na educação escolar, já que estimula o desenvolvimento intelectual, a observação, a capacidade analítica, lógica e criativa.
Para Piaget (1978) os jogos não são apenas para fins de entretenimento, também contribuem para o desenvolvimento intelectual, físico e mental dos indivíduos, fazendo com que os mesmos assimilem o que percebem da realidade. 
Na teoria do autor os jogos são classificados em três estruturas quanto ao aspecto da evolução do individuo: exercício, simbólico e regras.
A primeira tem como finalidade a satisfação, a segunda o indivíduo começa a utilizar a simbologia e a última desenvolve a delimitação do espaço e tempo.
De acordo com Campos (s/d) apud Maurício (2008), o professor deve assumir um papel facilitador para promover a habilidade de aprender e pensar do educando por intermédio da atividade lúdica.
Para Rojas (2002) o educador é peça fundamental desse processo.
Piaget (s/d) citado por Melo (s/d) afirma que o lúdico é uma ferramenta pedagógica que facilita o desenvolvimento da criatividade, autonomia e iniciativa dos aprendizes.
Na avaliação da autora, os jogos ajudam a agilizar o raciocínio numérico, verbal, abstrato e visual e estimula o respeito às pessoas. 
As brincadeiras desencadeiam prazer, satisfação e interesse e precisam fazer parte do contexto escolar.
Para a efetivação da aprendizagem, nota-se a necessidade de estimular a curiosidade e a criatividade na busca de despertar o interesse do educando. Winnicott (1975) citado por Pedroza (2005) afirma que o brincar é uma terapia com possibilidade autocurativa.
Conforme Melo (s/d), a utilização de material lúdico auxilia na aprendizagem, desenvolvendo os aspectos pessoal, social e cultural, que por sua vez, facilita na construção do conhecimento.
Por meio da brincadeira, a criança tende a adequar-se à realidade e consequentemente atribuir significado a mesma.
Dallabona e Mendes (2004) apontam que o lúdico serve como um meio pedagógico que envolve o aluno nas tarefas da sala de aula, bem como colocam que o educador deve ter claro em mente os objetivos em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem.
Ressaltam que a ludicidade aplicada e compreendida em sua totalidade agrega resultados positivos no ensino quanto à qualificação, à formação crítica, à definição de valores e aos relacionamentos interpessoais.
No jogo, o indivíduo aprende a separar objeto e significado.
Desta forma, o professor deve traçar e depois definir os objetos a serem alcançados dentro da sala de aula.
Moratori (2003) coloca que o professor deve propor as regras, mas permitir que os alunos criem os limites a fim de motivá-los quanto à agilidade, iniciativa e autonomia.
As atividades lúdicas resgatam o gosto pelo aprender, pois ocasionam momentos de afetividade entre o indivíduo e o aprender, tornando a aprendizagem formal mais prazerosa.
O lúdico permite a exploração do indivíduo entre seu corpo e espaço, provoca possibilidades de deslocamento e velocidade e cria condições mentais para resolver problemáticas mais complexas (TEZANI, 2004).
Dallabona e Mendes (2004) indicam que a educação mediante atividades lúdicas demanda o ato consciente e planejado para resgatar a satisfação e o interesse do aluno.
Para tanto, o educador deve repensar sua prática pedagógica, visando inserir atitudes que prezem pela reconstrução do pensamento e da maneira de perceber e compreender o conhecimento, cabendo ao profissional, o compromisso de modificação e transformação por meio da interação com os alunos.
A partir do momento que a escola valoriza as atividades lúdicas, auxilia na criação de um bom conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a criatividade estimulada e os direitos dos indivíduos respeitados.
A educação deve abrir mão da ideia de que aprender significa acumular conhecimentos sobre fatos e informações isoladas que requerem apenas memorização.

Segundo o referencial Curricular da Educação Infantil (1998, p23) citado por Dallabona (2004):

“Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras, e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.”

Tezani (2004) ressalta que a relação entre alunos e educadores deve ser verdadeira, com trocas de experiências e opiniões, em prol de preservar um clima harmonioso para a socialização do conhecimento, em que a sala de aula deve ser um ambiente de confiança, liberdade com limites, de conteúdos interdisciplinares, de inclusão, de aceitação do novo e de afetividade.
O ser humano não aprende do mesmo modo, não possuem as mesmas competências de acordo com a teoria de Gardner (1985) citado por Moratori (2003).


Concluindo.
O estudo teve como objetivo agrupar teorias acerca da consideração de atividades lúdicas no processo de aprendizagem.                                                                      
Atualmente as escolas brasileiras são palco de situações que muitas vezes dificultam o trabalho docente.
Deparamo-nos com salas heterogêneas, indisciplinadas, superlotadas, estudantes portadores de necessidades especiais e com dificuldades de aprendizagem.
Diante disto, surge o questionamento de como tornar a aprendizagem significativa frente a tantos desafios.
Sendo assim, existem várias pesquisas em torno da importância e necessidade da inserção de atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem.
Os jogos têm importância fundamental para o desenvolvimento social, emocional e intelectual do ser humano. 
Ao jogar é possível transpor limites, aventura-se e descobrir o próprio eu.
As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e brincadeiras faz a criança crescer através da procura de soluções e de alternativas, contribuindo para a eficiência e o equilíbrio do indivíduo.
Favorece a concentração, a atenção, o engajamento, a imaginação, o raciocínio lógico, a aceitação de regras e a socialização.
Como conseqüência a criança fica mais calma, relaxada e aprende a pensar, estimulando sua inteligência.                                                                                
Aberastury (1992) citado por Melo (s/d) afirma que as brincadeiras em grupo representam ganho cognitivo, emocional, moral e social para a criança.                  
Para Pedroza (2005) os jogos e brincadeiras representam fonte de conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo e contribui para o desenvolvimento de recursos cognitivos e afetivos que auxiliam a tomada de decisões, criatividade e raciocínio.
De acordo com Moratori (2003) a atividade lúdica envolve desejo e interesse do participante pela própria ação do jogo e o desafio motiva o jogador. 
Da mesma maneira, Tapia (2004) confirma a idéia de que o professor deve criar condições que propiciem a motivação.     
Com o passar do tempo, a educação deverá tomar novos rumos e teorias, respeitando as necessidades da sociedade.
Por conta disso, o educador deve estimular o aluno a se tornar um ser crítico, criativo e pensante, características estas que são passíveis de ser alcançadas por meio da ludicidade.


Para saber mais sobre o assunto.
BARRETO, M C L e col. O lúdico no processo de ensino-aprendizagem das ciências. Brasília: R. Bras. Pedag., 2007.
DALLABONA, Sandra Regina. MENDES, Sueli Maria Schimitt.  “O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educador” In: Revista de divulgação técnico-científica Vol. 1 n. 4 - jan.-mar./2004. Disponível em: http://www.icpg.com.br/artigos/rev04-16.pdf
CABANAS, Ana. Manual Técnico para elaboração da monografia. Caraguatatuba: Instituto de Integração em Educação Continuada, 2009.
MAURICIO, Juliana Tavares. Aprender brincando: o lúdico na aprendizagem. 2008. Disponível em: .http://www.pedagogia.com.br/artigos/importanciadabrinquedoteca1/index.php?pagina=9.
MELO, Belane Rodrigues de. A importância da brincadeira como recurso de aprendizagem. s/d. Disponível em: http://www.faedf.edu.br/faedf/Revista/AR01.pdf, s/d.
MORATORI, Patrick Barbosa.  Por que utilizar jogos educativos no processo de ensinoaprendizagem? Rio de Janeiro: 2003. Disponível em: http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/lado_direito.html
PEDROZA, Regina Lúcia Sucupira. “Aprendizagem e subjetividade: uma construção a partir do brincar” In: Rev. Dep. Psicol. UFF.  Niterói: 2005, v. 17,  n. 2, Dec.Disponívelem:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010480232005000200006&lng=en&nrm=iso.
PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho, imagem e
Representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
TAPIA, Jesus Alonso. A motivação em sala de aula: o que é, como se faz. São Paulo: edições Loyola, 1999.
TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. O jogo e os processos de aprendizagem e desenvolvimento: aspectos cognitivos e afetivos. 2004. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=621.


Texto: Profa. Danielle Conceição de Luna.
Pós-Graduanda em Psicopedagogia Institucional pelo INEC/UNICSUL.

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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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